quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Asocial (Cinco)


Sinto falta de uma palavra
para completar este vosso dicionário.
Para reviver estas minhas memórias,
Para explicar, continuar a história.

Das mil palavras não ditas—
daquelas, que só voam mentalmente—,
só uma agora faz falta
só uma preencheria o momento.

Não que momentos tenham existido.
Acredite, sequer alguma diferença fizeram.
Só há uma última revolta.
Uma frenesi; desesperança em volta

A atitude desprezada nas mentes,
a escuridão subestimada nos olhos,
a inépcia repulsiva nas almas
daqueles que suas palavras ignoram.

Tardes de chuva sempre trancafiado,
inspirando vida; Morte ao lado.
Encontrando ritmo finalizando o enunciado.
E ainda, uma palavra...

O Tempo Gasto


O moço encontrara outra folha virgem em seu caderno.
Vomitou mediocridades aleatórias até o dia virar.
Quando se sentiu satisfeito, leu e releu trinta vezes,
e depois releu mais uma vez. Arrancou a folha,
jogou-a no lixo.

Remontou a essência sentimental em sua consciência
reestruturou as bases do eu. Não hesitou, reiniciou
E ele reescreveu o mesmo texto que há pouco contemplou.
Sentiu nojo das rimas falsas, como aquela logo acima.
Repetiu.

Refez o mesmo texto com diferentes palavras,
e a cada vez que o fazia, mais um papel ia ao lixo.
Cada vez mais a essência do texto tomava contrastes,
cores, diferentes formas, paixão, profundidade.
Repetiu.

“Já se passaram dois anos.”, mas pareciam séculos.
Foram mais cento e vinte e sete tentativas.
“Já se passaram quatro anos.”, mas pareciam décadas.
Foram mais sessenta e três tentativas.
“Já se passaram vinte anos.”, mas pareciam dez.
Foram mais vinte e três tentativas.
“Já se passaram quarenta anos.”, mas pareciam dois.
Chegou-se a última tentativa.
“Já se passaram sessenta anos.”, mas foi como num segundo.