segunda-feira, 29 de julho de 2013

Promessa


Este é o último dia
que vou te encontrar
e o último obstáculo
que vou resistir.
Esta é a última vez
que vou falar,
também a última vez
que vou insistir.

Se tuas cicatrizes são sinceras—
assim como são minhas palavras,
assim como evoluiu meu saber
e como se construiu meu viver—,

por que seria necessário ofegar?

Quando canso de viver as mentiras
as quais o mundo decidiu criar,
minha pele desliza a superfície
que contempla o imponente amar

restando nesta breve história.

Tão sensato, tão profundo
tão pernicioso e imundo...
Tão complexo, tão esperto,
tão distante, mesmo perto...
Tão são, de mente e corpo;
insulado como morto-vivo.
Completo, faltando pedaço,
privando-se do encontrar

para finalmente estar perdido.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

O Homem Que Nunca Terminava o Que Sempre Começava


eu deixei algo para trás / no meu caminho até aqui / e afastei meu foco / e aprisionei minhas asas / e assustei minhas falhas / já não tão falhas assim / eu bem investi meu tempo / até não ter mais no que investir / afinal, meu tempo, / tu te tornaste pedaço de mim / o que houvera de canto deixar / agora me impede de traçar o meu fim / expressão antes fluía, / mas hoje, durante devaneios do dia, / de soslaio chora a regrada cantiga / acertando arestas que a razão vê de ruim / noites em claro / mente em escuro / ai de meus olhos, / que mentem sobre tudo / perdoe-me a realidade / mal sei o que quero de verdade / sou o que queria ser / conheço o que vim a ter / mas agora não há por onde ir / nem restou por onde transcender / um toque dos lábios / temporário conforto? / um eterno desgosto? / não é bem assim... / um último olhar / doce intenção? / uma arma em mãos? / ou nada enfim... / julgar de gestos / eu, um desgasto? / como? se o que gasto /
só gasto assim ^

eu perdi a essência / buscando aperfeiçoá-la / eu assumi a culpa / buscando destrui-la / eu perdi a vontade / ao descobrir nenhum sentido / abracei meu próprio eu / como meu melhor amigo / vivo perdido nos eus / e os eus em mim se refugiam / pois eu não passo de um dos eus / que em meu ânimo agora habitam 

uma vida inteira / de início / meio / a início / a meio / ao início / e o meio

mas vivendo eternamente / em importuna inconclusão

quinta-feira, 21 de março de 2013

O Eremita

Simples
Singular
Serene
Só um segundo,
e um segundo somente

Perplexo
Plural
Perturbado
Por um segundo,
e um segundo somente

Intrigante
Único
Equilibrado
Ao que é eterno,
pois um segundo só mente

Meu senhor, me perdoe
Pois a vocação que procuro
se tornou um motivo
para isolar-me em dores.

Meu senhor, me humilhe
Pois a sensação que procuro
justo encontrei
no cheiro das flores.

Meu senhor, desvaneça
Rogo-te que esqueça
que minha sabedoria
o nega onde fores.

Meu senhor, inexista
Que teu filho desista
de meu profundo reflexo
submergir em cores.

Meu senhor, chore
Como teu mártir chora
Como a criatura suscita
que a solidão vá embora.

Me tranque para fora
em conforto, isolado
Vagando, assolado,
com o real, lado-a-lado.

Pelos caminhos
Pelas cicatrizes
Pelos córregos
Dentre os carros

Entendimento. Compreensão.
Profundidade. Solidão.
Discernimento. Pragmatismo.
Uma leve, mas saturada,
crítica, mas dissimulada
gota de tolice.

terça-feira, 12 de março de 2013

Santíssimo Sacramento


Uma rosa branca
de uma impura calma.
Mais um livro disposto
sobre a pilha da alma.
O semblante perdido
no canto da rua
distante, tão perto,
quanto a Terra à Lua.
O caminho longínquo,
com graves pingos,
a torrente um dia
chegará a inundar.
Túrbido conforto,
mórbido esforço,
ao antigo epitáfio
anseio a voltar.
Carregue-me seco
por cada degrau.
Leve o mal
num sopro celestial.
Angular, vossa voz.
Em seus cantos, os muros.
E nos cantos dos muros
os choros soam.
Num túmulo malvisto,
há séculos esquecido,
sentado perduro,
onde axiomas voam.
Agradável bonança obscura,
sob ar pesado, habituada soberba
de uma calma alma pura,
uma tenra rosa negra.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Profundo Carmim

O corpo afundou-se na terra seca.
Escondeu-se no subterrâneo do mundo
onde nenhum olho humano pudesse ver
teus rearranjos após falecer.

Um último abraço de cada célula
enquanto desprendiam de si mesmas.
Simplesmente complexas em suas formas,
únicas, sem forma de se ser.

A cem metros abaixo da terra,
não há dinheiro, não há beleza.
Só etéreo torpor eterno
sobrando a admirar.

Rearranjou-se num parasita,
e viajou ao seu antigo lar,
o qual hoje era o berço
que antes da vida pôde estar.

Puxou-se de volta pelos órgãos,
tecido-a-tecido, quase letal.
Pendurou sua consciência
ao infinito, num cordão umbilical.

Faltava-lhe o conforto.
Vagueou por algo mais.
Aninhou-se em timbres rosas,